terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

Sobre o Nepotismo

As pessoas têm de parar de ver no nepotismo uma questão menor.

Na verdade, o emprego de parentes na máquina pública revela um profundo desrespeito ao contribuinte e à própria democracia, que tem na separação entre o público e o privado uma condição basilar.

Não dá para tratar a res publica como extensão do quintal do mandatário.

Não é herança, nem dinheiro amealhado com o suor do próprio: é o seu, o meu, o nosso dinheirinho que vai para o bolso da parentela do todo-poderoso de plantão.

É rapinagem vergonhosa, especialmente em estados mais pobres, onde a verba é diminuta e, as necessidades, colossais.

Se a parentela é competente, que se estabeleça por meios próprios: que faça concurso público, abra uma empresa, arranje emprego na iniciativa privada, vá vender cachorro-quente – aliás, há grandes exemplos de sucesso nesse tipo de empreendimento.

O que não pode é usar dinheiro público. Criar programa de primeiro emprego para beneficiar os seus. Ou transformar o erário em previdência privada, para teúdas e manteúdas.

Veio tarde, aliás, a decisão do Supremo. Porque nepotismo agride, sim, a Constituição. A moralidade e a impessoalidade que precisam nortear a conduta dos detentores de poder.

Ou o Brasil aprende o mínimo sobre democracia, ou nunca mais que sai do buraco.

Política não pode ser encarada como meio para fazer pé de meia. É serviço em favor da sociedade. E ponto.

Pererecando

Só Boato

Dirigente do PSB garante não ter fundamento o boato sobre grave doença do ex-senador Ademir Andrade.


Segundo a fonte, Ademir teria sofrido, apenas, inflamação na próstata, já devidamente sanada.

A confusão teria sido causada por um laboratório local, que identificou a doença como câncer.

Novos exames, em Brasília e São Paulo, porém, corrigiram o diagnóstico.

É macumba!

Ademir é a segunda importante liderança oposicionista a apresentar problemas de saúde, às vésperas do próximo pleito – a outra foi o ex-deputado petista Paulo Rocha. Por isso, já tem gente comentando: ô macumbeira danada, essa do PSDB!

Dobradinha

Falar em Ademir: circula nos bastidores políticos possível dobradinha PSB/PT, com Ademir para o Governo. Mas o ex-senador jura de pés juntos que sai mesmo é à Câmara dos Deputados. A conferir.

Plim! Plim!

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domingo, 26 de fevereiro de 2006

A frase do dia

Ah, deserto que ardes no peito!
Que tanto insistes em ser coração?

Sotaque Português

Vou-me a outras bandas,
outras terras, além Tejo.
Onde os dias não exalam teu perfume,
onde as cores não espelham teus cabelos.

Vou-me, qual um fado!
Rua em rua a luminar Alfama
a um canto de teu quarto.

Vou-me,
mágica qual a noite
a fecundar sonoros desejos.

E se de morte, enfim, forem essas terras.
E de negro se cobrir o azul do Tejo,
que em meu peito, ai!, se encontre a sepultura,
desse corpo que no meu é uma prece!

Belém, 1988

Esaú e Jacó

É certo que, por muito tempo, a política nacional conviverá com a polarização entre o PT e o PSDB. Não apenas pela condição gemelar desses partidos, que são, por assim dizer, uma versão revista e ampliada do clássico Esaú e Jacó. Mas porque representam – e isso soa até como obviedade ululante – o que de mais avançado foi produzido pela política brasileira, em muitos anos.

Por isso, causa espécie o nível rasteiro da disputa entre esses dois partidos, com a reedição de práticas eleitorais arcaicas e a possibilidade até de violência física, em graves proporções.

Comportamento estranho esse, quando proveniente de partidos que dispõem de tão brilhantes intelectuais. E que erigem na ética e na democracia o centro do discurso político.
Sinal que o suburbano coração está sempre presente, mesmo nas melhores famílias. E que, como já disse alguém, nessa grande zona cinzenta da política, a prática nem sempre corresponde ao discurso.

Não creio, porém, que essa polarização venha a se repetir no Pará, nas próximas eleições. É certo que vai influenciar nas alianças e nos recursos disponíveis. Mas, aqui, a polarização ocorrerá entre PMDB e PSDB.

Vou tomar uma e refletir acerca disso. Fui.

Uma Guerra Cruenta

Não me lembro a quem pertence a definição da política como a guerra por outros meios. Mas acredito que tal clareza é excelente ponto de partida para a cogitação de cenários às próximas eleições. Porque, o que se impõe a seguir, do ponto de vista lógico, é a consideração acerca das condições objetivas – e não de eventuais simpatias ou antipatias, ou “do mundo-como- gostaria-que-fosse”.

O intróito é necessário para rebater comentário em relação ao meu post inicial. Quem coloca Almir Gabriel como fora do jogo, nas próximas eleições, o faz por questões meramente emocionais. Porque Almir é uma força viva dentro do PSDB, o partido, aliás, que, por deter a máquina, detém, também, as maiores capacidades. Até porque tem sabido maximizá-las, a partir de uma boa estratégia de marketing. E de uma condução política que embaralha as cartas, a impedir o foco sobre essa ou aquela candidatura.

De igual forma, é tolice imaginar que Jader não considera a possibilidade de se candidatar ao Governo e que, ao fazê-lo, não terá condições de conquistar tal posto. As capacidades de cada “exército”, como a disponibilidade inicial de recursos humanos e materiais, antecipam as condições em que se travarão as batalhas. Significam, por exemplo, mais ou menos “linhas de abastecimento”, maiores ou menores tentativas de utilização do embate direto. Mas não determinam o resultado.

Mais importante é a estratégia. E mesmo, chamemos assim, a “virtude guerreira” e a motivação dos comandantes de tais forças, coisa que, aliás, muito boa gente teima em não considerar entre as condições objetivas. É fácil: basta imaginar o que seria do monumental exército napoleônico sob o comando de um Agamémnone – sem Ulisses, é claro.

Óbvio que não estamos falando de disparidades do tipo EUA e Vietnã ou EUA e Iraque – e mesmo em tais casos, as resultantes não foram exatamente as prognosticadas, a partir das capacidades iniciais.

Estamos falando de gigantes da política paraense, Almir e Jader, que dispõem de recursos consideráveis e que já comprovaram, sobejamente, extraordinário talento para o comando. O Jader com a sua capacidade de compreender as motivações de anjos e demônios, para seduzi-los a um só tempo. O Almir com uma determinação que faz todo o resto parecer de sua menos importância. Ambos, dotados de coragem arrasadora, a encantar, mas também atemorizar, o comum dos mortais.

Possível, assim, antever batalhas cruentas, com gaiolas suspensas, emparedamentos e, é claro, ordálios para todos os gostos. Mas o resultado, maninho, nem a Mãe Delamare...

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

ô gentalha!

Ô gentalha pra gostar duma sacanagem! Foi só chamar meu blogg de “A Perereca da Vizinha” pra choverem e-mails. Teve gente que até reclamou de falta de perereca (avalie!!!). Outro me perguntou se podia mandar um link pra minha...
Portanto, decidi aceitar as críticas em relação a minha perereca saltitante. Foi só política. Faltou aquela pitadinha de maledicência. O próximo post será mais picante – sem trocadalho!
Por que não falamos de pênis? Gostaria de saber da opinião de vocês. Alguém aí já leu o livro “Uma mente Própria”, que é uma história social do pênis? Concurso: dez cervejas pra história mais imaginativa sobre o mundo falocêntrico. Uso ou desuso.
Êta diabo! Que subi qui cumeçu a ficá bêbada!

Mexericos, bebedeiras e afins

Este blogg não tem qualquer finalidade nobre – muito pelo contrário. É, assumidamente, mexeriqueiro e algo bêbado, sempre que a autora estiver nessa condição. Por isso, versará, especialmente, sobre a política tupiniquim.


Quer dizer, se a gente não está em campo, nada impede, ao menos, de xingar o perna-de-pau da ocasião...


Em política, nada melhor do que ser absurdamente incorreto.


A frase do dia

“Na corte, a razão é proporcional ao poder que se detém”.


Direto da mesa de bar


Dia desses tomei conhecimento de um tititi quentíssimo. Diz que a proposta da ocasião, para as próximas eleições, é uma chapa com Almir para o Governo, Luís Otávio para vice e Jader para o Senado – com um “laranja”, para o mesmo cargo, de um pequeno partido da União pelo Pará, para que Almir não tenha de subir no palanque do Jader e vice-versa.


Cá com os meus botões, fiquei a matutar: isso parece coisa do tipo “eu trago a vaselina e tu o restante”. Galinha forreca que não se vende em raposário tão bem freqüentado...


Ora, um candidato “laranja”, qualquer que seja, pode tornar-se competitivo, dependendo das verbas e do apoio que sejam canalizados para a candidatura dele. O Luís Otávio, por exemplo, quem elegeu? E o Jatene? O próprio Ramiro, que era um poste, quase chega lá - só não chegou por causa de um erro de marketing. Então, o fato de se "correr solto" não é garantia alguma. E o risco é imenso: como ficaria a situação do Jader sem mandato e com o Luís Otávio como vice-governador pelo PMDB? Pode-se argumentar que nenhum daqueles que citei era, efetivamente, “laranja”. Mas, quem garante que o candidato proposto, nessa aliança, o será?


Não me lembro se foi Maquiavel ou Gracian quem fez o alerta, mas é certíssimo: em política, um dos piores erros é acreditar que um adversário pode perdoar uma ofensa grave. E o Luís Otávio foi levado algemado e de cuecas para uma delegacia, além de perder boa parte de seu patrimônio. Do Almir, então, nem se fala: todo mundo sabe a aversão que nutre pelo Jader. Seria o Jader tão ingênuo a ponto de se colocar, assim, nas mãos de dois adversários que, se puderem, lhe arrancam o couro, com um sorriso nos lábios?


A meu ver, o único centro de poder que realmente interessa, neste momento, para o Jader é o Governo do Pará. E por que? Porque só o Governo lhe dará garantias reais, efetivas, de recuperar espaço político na dimensão de que necessita até para a sobrevivência dele mesmo e do Helder, em Ananindeua. Quando até um Bira é cooptado da forma como foi (ou seja, introduzido no partido do governador, o PSDB) isso não ocorre pelo eventual peso eleitoral do cara, que é quase nulo, mas pelo simbolismo desse ato. Significa que a debandada é geral e que nem mesmo os mais fiéis se dispõem a continuar ao lado do “senhor”. É uma situação de extrema fragilidade que, se mantida, levará, fatalmente, à morte política.


Agora, vamos imaginar que tudo acontece bonitinho, nos trinques. Almir, Luís Otávio e Jader se elegem. E aí? No Senado, o Jader teria de continuar a se fingir de morto – não creio que o ACM permitisse a sua ressurreição, até porque o discurso do Jader tocou fundo, na mágoa, na dor, pela perda do filho. No Pará, ou seja, na base, o Luís Otávio seria o posto avançado do PSDB dentro do PMDB. Naturalmente, com verbas, assessorias e poder para criar um novo PMDB, do qual seria a liderança máxima. E, para isso, a condição fundamental é o aniquilamento dos Barbalho, aí incluído o Helder. Quer dizer: estamos falando de uma condição em que não sobraria para o Jader nem a sobrevivência através do(s) filho(s).


Assim, em 2010, poderia até haver uma alternância aparente de poder, com o Luís Otávio como governador, pelo PMDB, com o apoio do Almir. Mas, o que restaria, então, para os Barbalho, além da banda passando? O Jader está disposto a virar história? E, sem poder efetivo, quem garante que mesmo um mandato de senador seria suficiente para livrá-lo de uma nova prisão? Mesmo o patrimônio que juntou sobreviveria a isso, ainda mais com os constantes ataques do maior grupo de comunicação local?


Para terminar essas divagações, deixo para vocês uma historinha: o julgamento de Sócrates, há 2.500 anos.


Condenado, ele poderia ter proposto uma alternativa à pena de morte: multa, cadeia, desterro. Mas, como foi que raciocinou? Além de argumentar que a escolha de uma pena, por ele, seria uma espécie de confissão de culpa, disse, mas ou menos nesses termos: “o que há depois da morte eu não sei, ninguém sabe – se é alegria, se é sofrimento. Mas, na cadeia eu sei que vou sofrer. E também se escolher a multa, porque, como não tenho dinheiro, vou ficar preso por anos a fio. E o desterro? É tão ruim quanto, porque, se vocês que são meus compatriotas não me aturaram e me condenaram à morte, é justo que eu imagine que, em terra estranha, será apenas uma questão de tempo para que me matem. Logo, como posso trocar, assim, um sofrimento que nem sei se existe por um sofrimento certo?”.


Pergunta-se: como o Jader pode trocar uma eleição que não sabe se perderá por um acordo no qual estará irremediavelmente perdido?


Cantinho da Poesia


Minha Pasárgada 15/10/2005 22:49
(a Manoel Bandeira)

Minha Pasárgada já não há.
Ficou pra trás, com o trem.
Pra lá do trem.
Em meio a considerações
ao senhor diretor.
Morreu no ponto, sem café, sem pão.
Sem, ao menos, o verbo Teadorar.
Quem sabe fosse uma Pasárgada qualquer
daquelas que acenam em cada esquina,
com promessas de mil delícias,
mas que se apressam em ir embora
em busca de mais um cliente,
volúpia ardente que são.
Minha Pasárgada não fugiu a galope -
e essa já é outra história.
Era, tão somente, noves fora.
Bela, bela
mas necessitada de pneumotórax.
Fumava, bebia, esbravejava...
Não era bem uma ilha, uma utopia,
ou a poesia que bate à porta.
Era uma estação que ia ou vinha ao gosto do freguês.
Minha Pasárgada tem cabelos brancos.
E rugas - muitas rugas.
É o que restou.
É o porto em que me agarro
a fugir da indesejada das gentes.
A vida tem dessas coisas:
transforma todo paraíso em UTI.


Para quem gosta, um excelente Carnaval!