quarta-feira, 27 de agosto de 2008

blogando



Querido diário:




Hoje, passei uma vergonha danada: a minha calça ficou encharcada de sangue menstrual. E o pior, queridíssimo, é que nem sabia disso. Daí que andei, pra cima e pra baixo, como que a anunciar: menstruei.




Veja bem, queridíssimo: vou fazer 48 anos. Já parí, já me reproduzi o suficiente por quatro ou cinco ou seis reencarnações – contando os abortos, é claro!...




E mermo assim essa bicha insiste em me manchar de sangue... Como se ainda estivesse apta a reproduzir... Até parece!...Só se fosse pra eu me atirar do Manoel Pinto da Silva umas quinhentas mil vezes!...




De sorte que manchei cadeiras e cadeiras, em bares e carros. E ninguém pra me avisar: “porra, Ana, esse negócio tá vazando!”...




Avalie a vergonha, queridíssimo: eu, a discutir altas teses políticas e jornalísticas, a pensar que estava a abafar. E o sujeito só pensando: tá vazando, tá vazando...




O pior, querido, é a “estranheza” disso. Pois, que me fica a impressão de que sou uma excrescência, a única mulher a menstruar...




Parece que a todas aquelas garçonetes, educadíssimas, por sinal, nunca desceu, inesperadamente, a porra de uma menstruação.




E parece que o sujeito que me acompanha, e os sujeitos com quem fala, nunca teve nem mãe, nem irmãs, nem namorada, nem mulher...




E eu me sinto assim, querido diário, como uma coisa, a única a eliminar esse turbilhão vermelho.




Que nada mais é que um óvulo não-fecundado e o aconchego inútil de um útero que não se fez.




E eu penso nas vezes em que vi esse fenômeno, como espécie de graça de Deus.




Das vezes em que rezei: Senhor, que eu não tenha engravidado!...




Ou das vezes em que fiz um aborto, para não permitir o nascimento de uma criança que eu, simplesmente, não queria.




Das vezes em que me vi, não simplesmente como um útero, mas, como um ser, como uma pessoa, com absoluta determinação sobre a própria vida...




E a menstruação, queridíssimo, em tais ocasiões, nunca me pareceu como aquela maldição judaico-cristã (imunda és e em quem tocares e tudo em que tocares!).




Mas, como a resposta do bom Deus às minhas preces...




Afinal, por que, querido, tenho de me envergonhar de uma coisa que é minha, fêmea, e só minha?




Trepei, trepei, trepei – não procriei, e daí?




Ninguém vai me tirar o gozo que senti. O prazer do ato, o orgasmo que alcancei, pelo qual, sim, lutei...




Ninguém vai me tirar esse ganho social de fazer uma coisa de que tanto gosto, sem a “necessária” conseqüência de parir.




Posso, hoje, sentir o prazer da mão que percorre a minha pele, o meu corpo.




Do corpo que a minha mão percorre. No rosto, no peito, entre as pernas...




Esse é um ganho que ninguém me tira, querido diário: o prazer do sexo. O fato de gostar de sexo, de não ter o sexo como simples fator de troca.




Como algo que se “dê” a um homem, como forma de sustentação.




É algo que eu quero – o sexo – e que me faz falta, sim.




Então, por que, queridíssimo, devo ter vergonha da minha menstruação?




É minha. A menstruação é minha, como o parto e o filho que acalentei – ou que deixei, por vontade própria, de acalentar.




É minha, como o meu útero, os meus hormônios e os meus seios.




É minha, como a forma que eu, mulher, encaro o mundo.




Pensando bem, queridíssimo, nem tenho vergonha das cadeiras e dos sofás que manchei...




Sou feita de sangue; sou fêmea...




E quem não gostar, queridíssimo, que vá mais é lamber sabão...





FUUUUUIIIIIII!!!!!!

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