segunda-feira, 19 de abril de 2010

Entidades distribuem nota de protesto contra liberação de Belo Monte



Prelazia do Xingu, Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, Greenpeace e mais de 80 entidades, do Brasil e do exterior, emitiram nota de protesto contra a decisão do presidente do Tribunal Regional Federal da 1 Região, Jirair Megerian, que cassou liminar a impedir o licenciamento e leilão da usina de Belo Monte.


Abaixo, a nota das entidades:


“Nota contra a decisão autoritária do TRF 1a Região no caso da usina de Belo Monte


Há trinta anos os povos indígenas, os ribeirinhos, os pequenos agricultores e todos os demais povos que vivem à beira do rio Xingu lutam contra a transformação do rio numa sequência de hidrelétricas. E o fazem porque sabem que sem ele não têm como sobreviver.


Há vinte anos a sociedade brasileira e internacional tomou conhecimento do absurdo plano elaborado durante o governo militar de instalar 6 grandes hidrelétricas no rio Xingu, e, na alvorada do regime democrático, conseguiu reagir para impedir que esse desastre ocorresse, e o projeto foi enterrado.


Há dez anos a Eletronorte, empresa estatal de energia, responsável pela construção das usinas de Balbina (AM) e Tucuruí (PA), dois dos maiores desastres socioambientais do país, voltou a apresentar um projeto para construir hidrelétricas no rio Xingu, alegando agora que seria apenas uma, denominada Belo Monte.


Mesmo sozinha, essa usina poderia provocar grandes impactos: uma área alagada maior do que a cidade de Porto Alegre (RS); a construção de gigantescos canais para desviar o rio de seu curso natural, equivalentes em dimensão ao canal do Panamá; o secamento de mais de 100 km do rio, onde vai passar menos de 20% da quantidade normal de água, com grande probabilidade de se criar um verdadeiro colapso ecológico numa região de altíssima biodiversidade, e que é local de moradia para centenas de famílias de indígenas e ribeirinhos, cujos direitos humanos seriam seriamente afetados pelo projeto.


E isso para construir uma usina que, apesar de custar muito mais do que os R$ 20 bilhões anunciados pelo Governo Federal – financiados com empréstimos e subsídios públicos, dinheiro do contribuinte brasileiro - vai funcionar a plena potência em no máximo 3 meses do ano, e que em outros 3 ou 4 meses não vai gerar nem 10% da capacidade instalada.


Há três anos a Eletronorte deu início ao licenciamento ambiental de Belo Monte, junto ao Ibama. Apesar do longo tempo em que desenvolve o projeto, elaborou estudos ambientais que não detalhavam as consequências da obra na vida das pessoas e dos ecossistemas da região.


Essa realidade foi apontada não só por um painel independente formado por 40 especialistas, como também pelos técnicos do Ibama, que, após meses analisando e reanalisando os estudos, pediram o aprofundamento de alguns pontos essenciais.


Como alguns deles demandariam mais vários meses de realização, a Eletrobrás apresentou meros arremedos, que no final de janeiro deste ano foram considerados insuficientes pelos técnicos do Ibama para se tomar qualquer decisão, pois grandes incertezas ainda pairavam no ar.


Assim mesmo a diretoria do Ibama, politicamente pressionada pela Casa Civil da Presidência da República, mas contrariando a legislação brasileira, deu aval para a obra em 1o de fevereiro, deixando para avaliar vários dos principais possíveis problemas socioambientais depois que a obra já estiver pronta (!).


O Ministério Público Federal, que sempre acompanhou o caso, preparou duas ações judiciais para evitar essa ilegalidade, reunindo estudos e argumentos que demonstrassem ao Judiciário o atropelo das regras estabelecidas.


O Juiz Federal de Altamira (PA) analisou durante uma semana os argumentos apresentados e, no dia 14/04, numa decisão amplamente lastreada na Constituição Federal e na legislação nacional, decidiu uma das ações, suspendendo a realização do leilão para concessão da usina, marcado para 20/04. A outra ainda está sendo analisada.


Apesar de todos os argumentos jurídicos, irrefutáveis, apresentados na ação do MPF e que fundamentaram a decisão do Juiz de Altamira; apesar das inúmeras evidências de irregularidades na licença concedida; apesar dos muitos anos em que esse projeto vem sendo debatido pela sociedade; apesar de ser de conhecimento público que essa será uma usina que custará muito ao país, mas que gerará relativamente pouca energia; apesar de ser função do Judiciário julgar com base na lei e nos fatos, o Desembargador Federal Jirair Megerian, Presidente do Tribunal Regional Federal da 1a Região, em menos de 24 horas, cassou a decisão que paralisava o leilão, sem analisar nenhum dos argumentos expostos na ação.


Alegou, apenas, que as populações indígenas afetadas não estavam ameaçadas porque “a emissão da licença prévia e a realização do leilão não implicam na construção imediata de Belo Monte”, ao mesmo tempo em que afirma que “a não realização do leilão traria graves prejuízos à economia pública”, pois atrasaria o início das obras da usina (!).


Não aceitamos que uma questão dessa importância seja decidida dessa maneira.


Não é possível que um juiz, por acreditar, sem nenhum fundamento, que a não construção da obra no prazo imposto pelo Ministério de Minas e Energia traria graves prejuízos econômicos ao país, feche os olhos para as várias ilegalidades do processo e coloque o respeito à lei como elemento secundário.


O Judiciário não pode se furtar a respeitar a lei, como nenhum outro órgão democrático pode.


Brasília, 19 de abril de 2010


Assinam:


Movimento Xingu Vivo para Sempre – MXVPS; Amigos da Terra – Amazônia Brasileira; Instituto Socioambiental – ISA; Prelazia do Xingu; Fundação Viver, Produzir e Preservar – FVPP; Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB; Conselho Indigenista Missionário – CIMI; Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB; Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal – ABEEF; Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil – FEAB; Movimento de Mulheres do Campo e Cidade do Pará; Movimento de Mulheres Regional Transamazônica e Xingu; Fórum dos Direitos Humanos Dorothy Stang Regional Transamazônica e Xingu; Movimento de mulheres Trabalhadoras de Altamira Campo e Cidade; Sindicato de Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais de Porto de Moz; Comitê de Desenvolvimento Sustentável Porto de Moz; Sindicato das Trabalhadoras Domésticas Região Transamazônica e Xingu; Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal no Estado do Pará -SINTSEP/PA; Fórum das Mulheres da Amazônia Paraense – FMAP; Grupo de Mulheres Brasileiras – GMB; Associação Floresta Protegida; Associação dos Indios Moradores de Altamira; Conselho Indígena de Altamira – COIA; Associação do Povo Indígena Juruna do Xingu; Associação do Povo Indígena Xikrin do Bacajá; Grupo de Articulação dos Direitos Indígenas de Altamira; Centro de Defesa dos Direitos Indígenas de Altamira – CDDI; União das mulheres indígenas da Amazõnia Brasileira – UMIAB; Associação Nacional de Ação Indigenista da Bahia; Federação das Associações de Moradores e Organizações Comunitárias de Santarém – FAMCOS; Organização pelo Desenvolvimento da Amazônia com Direitos Humanos - ONDAS-DH; Fórum da Amazônia Ocidental – FAOC; Fórum da Amazônia Oriental – FAOR; Associação de Desenvolvimento da Agroecologia e Economia Solidária - ADA AÇAÍ; Centro de Educação e Assessoria Popular – CEAP; Conselho Municipal da Cidade de Porto Velho; Operação Amazônia Nativa – OPAN; Associação para o Desenvolvimento Integrado e Sustentável – ADEIS; Grupo de Defesa da Amazônia – GDA; Organização Não Governamental Arirambas – ARIRAMBAS; Mana-Maní Círculo Aberto de Comunicação, Educação e Cultura; Rede Brasileira de Arteducadores; União dos Estudantes de Ensino Superior de Santarém (UES); Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense – FMAP; Grupo de Mulheres Brasileiras – GMB; Associação Paraense de Apoio às Comunidades Carentes – APACC; Comitê Metropolitano Xingu Vivo para Sempre, Belém/PA; Fundação Tocaia; Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais; Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé; Rede Jubileu Sul Brasil; Justiça Global; IBASE; Rede Brasileira de Justiça Ambiental; Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos – SDDH; Instituto Brasileiro de Inovações Sociedade Saudável - IBISS-CO; Greenpeace-Brasil; Instituto Ambiental Vidágua; Comitê Independente por Justiça Ambiental - C.I.J.A; Forum Brasileiro de Economia Solidaria – FBES; Rede Alerta contra o Deserto Verde; Terræ Organização da Sociedade Civil; Iterei – Refugio Particular de Animais Nativos; Centro de Referência do Movimento da Cidadania pelas Águas Florestas e Montanhas Iguassu Iterei; Associação Alternativas para a Pequena Agricultura no Tocantins - APA-TO; Instituto de Estudos Socioeconômicos – Inesc; Amigos da Terra Brasil; Organização Universalista em Direitos Humanos – U.S.O.S.; Instituto Amazônia Solidaria e Sustentável – IAMAS; Associação Global de Desenvolvimento Sustentado; Grupo Ambientalista da Bahia – Gamba; Centro de Pesquisa e Assessoria Esplar; Frente Cearense Por uma Nova Cultura de Àgua; Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul – PACS; ABONG; Instituto de Pesquisas em Ecologia Humana; Instituto Terramar; Forum Mudanças Climaticas e Justiça Social; Associação de Saúde Ambiental- TOXISPHERA; Associação de Proteção ao Meio Ambiente de Cianorte – APROMAC; International Rivers, EUA; Amazon Watch – EUA; Asociación Interamericana para la Defensa del Ambiente – AINDA; Otros Mundos AC/Chiapas – México; Survival International”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Curiosamente, ninguém faz duas perguntas básicas a essas entidades: 1. Como desenvolver aquela região sem explorar sua riqueza natural? Como gerar energia elétrica de maneira limpa, nas quantidades que o Brasil precisa para se desenvolver, sem usar nossos rios para isso?
James cameron e outros palhaços que vivem no país que mais polui o meio ambiente no mundo e o que consome 70% de sua energia elétrica da queima de carvão (a forma mais poluente de geraçao de energia), deveria fazer protestos em território americano. Apenas Las Vegas, para manter os luminosos acesos, polui em um dia o que Belo Monte poluirá em 300 anos. O país precisa crescer, as pessoas precisam de trabalho e renda. Essas Ongs e religiosos estrangeiros estão a serviço da manutençao do atraso do país, da reducao da nossa competitividade. Go home!!!