domingo, 1 de setembro de 2013

Pará pode virar lanterninha do IDHM do Brasil. Crescimento do IDHM do estado é um dos piores do Norte e Nordeste: nos últimos 20 anos, Pará perdeu até para Alagoas, Piauí e Maranhão. Mesmo assim, percentuais de investimento do estado estão entre os menores do País. Pará já é lanterna de IDHM e de investimentos da Região Norte. Tudo na primeira parte da reportagem “O Pará ladeira abaixo”, que você confere a partir de agora.


(Foto: blog do Charles Alcântara)



É uma tragédia anunciada. 

O Pará já possui um dos piores IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) do Brasil: está em 24º lugar, empatado com o Piauí e à frente apenas do Maranhão e Alagoas.

Mesmo assim, foi um dos estados brasileiros que menos gastou com investimentos, nos últimos dois anos, proporcionalmente à despesa total do governo.

Alagoas, Piauí e Maranhão investiram bem mais do que o Pará e chegaram até a figurar entre os campeões nacionais de investimentos.

E na Região Norte, onde já detém a lanterninha do IDHM, o Pará foi quase sempre um dos últimos colocados em investimentos, nos últimos 12 anos.

Os melhores desempenhos do Pará foram em 2005 e 2006, quando ocupou o quarto lugar no ranking regional.

Mas em 2007, 2008, 2009, 2011 e 2012, ele ficou em último lugar em investimentos.

E em 2010, apesar de ter investido mais de 11% do total da despesa, só conseguiu ganhar do Amapá.

Quer dizer: se nada for feito, o Pará poderá se tornar, nos próximos anos, o pior estado em desenvolvimento humano do Brasil. 


Estado despencou no ranking nacional 


Sinais dessa possibilidade não faltam.

No final do mês passado, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) divulgou o Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil 2013, elaborado em parceria com o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e a Fundação João Pinheiro.

O IDHM é composto por três indicadores (ou subíndices): Renda, Educação e Longevidade.

O trabalho tem por base os Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010, realizados pelo IBGE.

E são esses dados que deixam patente a situação aflitiva do Pará.

Entre 1991 e 2010, ou seja, em 20 anos, o Pará simplesmente despencou no ranking nacional do IDHM.

Em 1991, o Pará era o 17º IDHM do Brasil.

Em 2000, caiu para a 19ª posição.

E em 2010, ficou em 24º lugar, empatado com o Piauí e à frente apenas do Maranhão e Alagoas, o “lanterninha” da Federação.

Ou seja, caiu 7 posições.

E não é que o IDHM do Pará não tenha melhorado: melhorou, sim.

Em 1991, o IDHM do Pará (0,413) era menor que o de Melgaço (0,418), o pior do Brasil, segundo o Atlas 2013.

Já em 2010, o IDHM do Pará atingiu 0,646 – ou seja, cresceu 56,41% em 20 anos.

Um crescimento excelente, se o Pará ficasse no Sul ou no Sudeste, as duas regiões mais ricas do Brasil.

Isso porque, em todo o Norte e Nordeste, as duas regiões mais pobres do país, só 3 estados cresceram menos do que o Pará: Roraima, Pernambuco e Amapá.

Mas há um “detalhe”: Roraima, Pernambuco e Amapá sempre tiveram IDHMs superiores ao do Pará.

Além disso, Amapá e Roraima são os únicos estados do Norte e Nordeste que possuem IDHM considerado alto – acima de 0,700.

Todos os estados mais pobres do Norte e Nordeste, inclusive Piauí, Maranhão e Alagoas, que sempre possuíram os piores IDHMs do Brasil, cresceram mais em desenvolvimento humano do que o Pará.

Piauí e Maranhão, por exemplo, cresceram mais de 78%.

Alagoas, mais de 70%.

E o campeão nacional, o estado do Tocantins, estuporou a boca do balão com quase 90% de crescimento do IDHM, nesse período.

Aliás, em se tratando da Região Norte, não há estado (à exceção do Tocantins, em 1991) que tenha ocupado posição tão ruim quanto o Pará, no ranking nacional do IDHM.

E mais: os IDHMs Educação do Maranhão e do Piauí já são maiores que o do Pará.

O IDHM Educação do Pará é o segundo pior do Brasil, atrás apenas de Alagoas.

Resumo da ópera: enquanto os estados mais pobres do país melhoram aceleradamente a qualidade de vida, justamente para “tirar o atraso”, o Pará caminha a passo de cágado.

Daí estar ficando cada vez mais para trás. 


O crescimento do IDHM dos estados em 20 anos 


Veja o ranking e os quadros elaborados pela Perereca da Vizinha, a partir dos números do Atlas de Desenvolvimento Humano 2013.

Primeiro um ranking mostrando o crescimento do IDHM dos estados brasileiros, nos últimos 20 anos. 

Os dados são do Atlas, mas os percentuais foram calculados pela Perereca (se quiser, confira: divida o IDHM de 2010 pelo IDHM de 1991, subtraia 1 e multiplique por 100).

Para facilitar a visualização, os estados foram divididos por regiões: 


SUL 
PARANÁ: 47,73%
SANTA CATARINA: 42,54%
RIO GRANDE DO SUL: 37,63% 

SUDESTE 
MINAS GERAIS: 52,92%
ESPÍRITO SANTO: 46,53%
SÃO PAULO: 35,46%
RIO DE JANEIRO: 32,80% 

CENTRO OESTE 
MATO GROSSO: 61,46%
GOIÁS: 50,92%
MATO GROSSO DO SUL: 49,38%
DF: 33,76% 

NORDESTE 
MARANHÃO: 78,99%
PIAUÍ: 78,45%
PARAÍBA: 72,25%
BAHIA: 70,98%
ALAGOAS: 70,54%
CEARÁ: 68,39%
SERGIPE: 62,99%
RIO GRANDE DO NORTE: 59,81%
PERNAMBUCO:  52,95% 

NORTE: 
TOCANTINS: 89,43%
RONDONIA: 69,53%
ACRE: 64,92%
AMAZONAS: 56,74% 
PARÁ: 56,41% 
RORAIMA: 54,03%
AMAPÁ: 50%


E aqui, um quadro específico da Região Norte, mostrando a evolução do IDHM entre 1991 e 2000; 2000 e 2010; e 1991 e 2010 (percentuais calculados pelo blog):




Aqui, um quadro com os rankings nacionais de IDHM, em 1991, 2000 e 2010. Os dados foram extraídos do site do PNUD (http://www.pnud.org.br/IDH/Atlas2013.aspx?indiceAccordion=1&li=li_Atlas2013), na base do control C, control V.

Repare que, em 2000, o Acre aparecia empatado com Sergipe, embora Sergipe tivesse IDHM igual ao do Pará – e superior, portanto, ao do Acre. O blog não sabe se isso decorreu de um erro ou da utilização de algum critério (como o eventual peso de indicadores). Daí ter mantido a informação exatamente como estava.

Se você quiser conferir, clique no link acima e veja, na página do PNUD, na coluna do lado esquerdo, o ranking de “IDHM UF”.

Veja o quadro (clique em cima dele para ampliar):



Aqui, um quadro retirado da página do PNUD, com o IDHM geral e os IDHMs Renda, Longevidade e Educação de cada estado, em 2010.

Repare que o IDHM Educação do Pará só é melhor que o de Alagoas:


E aqui quadrinhos específicos da Região Norte mostrando o IDHM geral e os IDHMs Renda, Longevidade e Educação de cada estado, bem como a posição que ocupavam no ranking nacional, em 1991, 2000 e 2010. Repare que os IDHMs Renda e Educação do Pará são os menores da Região Norte. E no IDHM Longevidade ele só ganha do Acre. Os dados também foram extraídos na base do control C, control V:




A Perereca volta já com a segunda parte da reportagem “O Pará ladeira abaixo”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Interessante para uma primeira pontuação, mas esse dado ecônomico atualizado não responde a pergunta. Por que o Pará é tão atrasado em desenvolvimento? Quem sabe podemos dar uma olhada no indice de corrupção que coloca o Pará entre os três mais corruptos do país, junto com Maranhão e Alagoas. Esses Estados também são a imagem do atraso. Também poderíamos verificar o caminhão de privilégios que os agentes políticos paraenses recebem, enquanto a população minguada e ignorante vive pelo dia sem qualquer visão estratégica, afinal em terra de cego quem tem olho é rei.